O design instrucional acabou

Nesse final do ano de 2017 lancei uma pesquisa para entender melhor o DI na visão do DI e refleti muito sobre o papel do Designer Instrucional…

Ainda há espaço para uma visão romântico do design instrucional?

Por quê não somos valorizados em nossas empresas?

Efetivamente fazemos diferença?

O Design Instrucional acabou?

Estamos em 2020 e as discussões nas comunidades de DIs continuam as mesmas!

Não foram poucas as vezes em que vi os conhecimentos de um Designer Instrucional serem colocados de lado em um função dos mais variados motivos: urgência da entrega do projeto, ego, falta de conhecimento do processo por parte do cliente, gestores mal preparados… 

O cliente chega com a solução e você tem que executar, pronto!

Eu me arriscaria a dizer que você conhece pelo menos uma pessoa que já fez praticamente a mesma coisa que seus clientes, mas em outro contexto: sabe quando você vai ao médico e diz pra ele “doutor, estou com dor x, é de família, preciso de uma receita do remédio y”… você já tem a solução, mas precisa de uma receita…

Bom, ainda vejo muito médico clinicando, mas vejo cada vez menos designers instrucionais fazendo seu trabalho.

O Design Instrucional já era? O Designer Instrucional morreu? Quem é o responsável por isso?

Estão roubando nossos pacotes SCORM?
– imagem Freepik –

A culpa é do processo

O que coloca a gente no limbo são os nossos processos! Ninguém quer esperar nossa análise de conteúdo, “perder tempo” discutindo estratégia e validando roteiro, não há tempo para fazer um diagnóstico do problema e por aí vai… Muitas vezes o cliente chega com a solução do problema que ele acha que tem, mas precisa de um SCORM, né… então chama o DI ☹

Mas, vamos deixar o rancor de lado e tentar entender se estamos mesmo mortos ou não.

Em geral, quando falamos de processo em design instrucional vem à mente o modelo ADDIE, processo simples e linear, mas que pode ser longo se não for respeitado, correndo o risco de ser abandonado no meio do projeto.

~ já teve série aqui no blog para falar de cada etapa – Análise, Design, Desenvolvimento, Implementação e Avaliação ~

Em tempos de metodologias ágeis como o SCRUM ou SPRINT – que são fantásticas para o que se propõem – vejo que as pessoas querem mais agilidade também nos processos de DI.

Conversei sobre isso nesse Conversa Aberta com a Priscila Silvério.

Muitos fornecedores criam seus próprios processos em busca dessa velocidade de produção e entrega, mas, muitas vezes, isso beneficia mais a fábrica de conteúdo do que a experiência de aprendizagem que estamos criando.

Saindo um pouco do processo de desenvolvimento e indo lá para a ponta, temos os resultados do treinamento, os KPIs. Se você atua como DI, seja sincera comigo:

– Hoje, você tem tempo de avaliar a efetividade de seus treinamentos?

– Quantas Avaliações de Reação você já leu?

– Quais informações você tirou desses relatórios?

– O que foi feito a partir dessa análise?

Talvez o mais comum aí no seu dia a dia seja o cliente reclamar que o curso não foi efetivo, não deu resultado, que ele não viu mudança de comportamento em sua equipe. Talvez o Treinamento tenha até sido o “culpado” pelo prejuízo da empresa em algum momento.

Isso me lembrou uma situação de briefing que eu estava fazendo com um cliente e eu perguntei:

– Por que você precisa de um treinamento online para esse tema?

– Bom… porque vou passar por Auditoria daqui a 15 dias!

#chorei

A culpa é das ferramentas de autoria

Outro ponto: hoje temos ferramentas de autoria cada vez mais fáceis de usar, intuitivas e de fácil acesso – e isso é ótimo! Mas para alguns, isso quer dizer que qualquer um que possa ter acesso a essas ferramentas é um Designer Instrucional.

Não creio que seja por aí… você pode ter talento, você pode ter estudado muito e, assim, desenvolver soluções incríveis usando ferramenta de autoria. Mas só saber usar a ferramenta, por si só, faz a pessoa tão DI quanto o fato de saber usar uma faca me faz uma chef de cozinha. É como estar com a faca e o queijo na mão! Tem um bom PPT, joga lá e scormiza, e záz! Tem um curso pronto…

A culpa é do Designer Instrucional

A gente só quer fazer e-Learning… mas o e-Leaning também está morrendo! É o que diz esse relatório aqui da Metaari.

O relatório fala do curso autoinstrucional, o basicão mesmo, que vem cedendo lugar ao mobile learning, realidade virtual e aumentada, gamificação… distanciando as soluções de treinamento dos acessos restritos em desktops ou notebooks.

Fato é que o e-Learning continua aí, assim como a TV não substituiu o rádio, o e-book não substituiu o livro físico e por aí vai…

Outra coisa que já escutei: “não entendo o que vocês dizem, vocês são muito nerds!”

Bom, resolvi dar uma olhada no Google sobre o que é nerd…  foi divertido: falou de feiura, adolescência, não gostam de beber, tem problemas sociais… #aff

Não sei você, mas eu não me identifiquei com nada disso aí e não estou a fim de me encaixar em estereótipo algum. Recomendo que você faça o mesmo.

Vou acreditar que as pessoas entendem por nerd, uma pessoa que estudou bastante antes de falar sobre determinado tema.

Bom, aí o que a gente faz? Se Designer Instrucional é tudo maluco, então vamos mudar o nome dele, daí tem Designer Educacional, Desenhista de Soluções de Aprendizagem, Designer de Experiência de Aprendizagem… e tudo bem, não há nada de errado com isso, desde que tudo esteja alinhado e combinado.

Outro ponto: como faz parte do trabalho do Designer Instrucional garantir que o escopo do projeto foi plenamente atendido, logo se o projeto não deu certo a culpa é do DI.

Sim, o DI tem o papel de mediar uma equipe multidisciplinar ao longo do projeto, mas sabe, quando atuei na indústria aérea aprendi que um acidente nunca é culpa de uma pessoa, mas sim de várias pessoas e de várias circunstâncias. Entendo que o mesmo se passa em um projeto de e-learning, há muitas pessoas envolvidas… culpar o DI, ou qualquer um dos participantes do projeto, isoladamente é cruel.

Muito bem, então até aqui entendemos que não temos tempo para o ADDIE, que todo mundo pode ser DI e que o DI é doidão… some-se a isso o fato de que não temos dinheiro, já que os orçamentos estão cada vez mais enxutos e fazer mais com menos é coisa do passado, a onda agora é fazer muito mais com quase nada – você já ouviu que precisa entregar 120%?!

Então, quem é o culpado pelo sumiço do Design Instrucional?

Não há culpados! E o Designer Instrucional não está morrendo!

O que precisamos é nos reinventar, nos adaptarmos ao cenário atual e garantir o máximo possível em qualidade e excelência.

Obviamente, atuando no mercado corporativo, eu sei que pode acontecer de um conteúdo ser obrigatório, sem muito, ou quase nada, da nossa interferência no conteúdo e na abordagem… mas precisamos nos manter guardiões do Design Instrucional.

– imagem: Freepik –

Como fazer isso?

– procure brechas para mostrar os benefícios de um processo bem cumprido (eu disse cumprido e não comprido, hein!!)

– foque na experiência do aluno

– divulgue boas experiências, bons projetos com todos seus clientes

– busque oportunidades de intervenção (Dá pra melhorar um texto? Tem um parágrafo que podia ser apresentado como infográfico? Esse infográfico estático podia estar animado? Posso trabalhar essas fotos?)

– compartilhe textos sobre Design Instrucional (pode começar divulgando esse post aqui 😉), as pessoas tendem a rejeitar aquilo que não conhecem.

Você tem alguma outra dica para avivar o Design Instrucional?

Compartilha aqui nos comentários!

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

4 + sete =